sábado, 1 de dezembro de 2012

BANDA SONORA DE LA MUERTE


Chego ao fim e me ponho na varanda como alguém que se estira a beira de um precipício. E não sei o que faço: se lamento como um lobo – ou se grito. Ou se há algo além do grito e do lamento que se possa fazer antes desse momento derradeiro que é se abismar num poço. Quando as coordenadas apontam pro vazio. E quando na vida não há nada mais do que seus braços a apertar seu próprio corpo.


O que faço: grito? Se gritasse, seria um grito de protesto: Cocteau Twins a inflar os pulmões e um exemplar de Miguel de Unamuno a ocupar o bolso. E se lamentasse? Se lamentasse, olharia para a lua com seu semblante taurino, tomaria um copo de vinho enquanto entoasse entre os lábios uma canção do Antony & The Jonhsons. Mas não sei que canção deve me acompanhar neste momento tão franzino e me ponho de súbito a apreciar um pássaro que criou seu próprio ninho e onde pretende realizar o mistério da criação colocando um ovo. Como não sei voar - e como sei que se me atirar da varanda a queda será certa – só me resta fazer o mesmo que o pássaro: colocar ovo. E aqui estou eu em pé como um totem na varanda, a tecer e fiar palavras, vendo a vida passar como algo absolutamente sem direção. Quando toda bússola resulta em logro. E quando só te sobram as mãos.

Junto, portanto, as mãos sob o queixo num gesto instintivo de clamor e reverência e descubro que o momento não é para uivos e nem para estridência – mas para devoção.

Vá, me dê uma canção. Sem canção, não tenho uma trilha que me acompanhe nesta hora tão derradeira, quando a vida nem eira e nem beira e quando te aparecem o hiato e a suspensão. 

A varanda é uma parede suspensa.

O hiato é uma ponte imensa.

Quero atravessar: por favor, me dê as mãos.

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